segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Os anos dourados do surf.

Foto - Mike Wellmam em algum lugar do México - 1974


Quando foram os anos dourados do surf? 
Eu suponho que tudo depende do momento em que você começou a surfar. 
Para uns poucos sortudos foram os anos trinta, quarenta ou cinquenta. 
No Brasil poderíamos disser que os "anos dourados" do surf foram as décadas de 60 e 70. 
Nos anos 60, os poucos surfistas que existiam, viviam embalados pela surf music, começando a desbravar o litoral num clima de camaradagem. 
Uma época ingênua e inesquecível para os que tiveram oportunidade de vivê-la. 

The Beach Boys Califórnia - 1964



Califórnia - final dos anos 40
Waikiki - Hawaii 

Nos anos 70 começou a rebeldia. A ditatura militar estava no seu auge e a contra cultura marcava seu espaço no tempo. 
Alguns jovens cabeludos, já contaminados pelo estilo de vida do surf, vagavam pelas praias sendo tachados de vagabundos e maconheiros.
Mas a vida de surfista era um sonho. A cada curva da estrada havia uma nova descoberta. Ondas sem crowd, praias desertas onde era possivel após o surf, acampar em volta de uma foqueira e passar a noite na praia sobre o luar em lugares como Maresias, Itamambuca ou Itaúna.
Era um paraíso mas tinha seus dias contados. 
Quem viveu a época dos grandes festivais de surf em Ubatuba e Saquarema, do pier em Ipanema, dos meses de verão surfando as ondas da praia da Vila em Imbituba-SC, das ondas perfeitas de Imbinhoara no Ceará, da aventura que era chegar as praias do Litoral Norte de São Paulo e surfar sem crowd nenhum, das viagens de Kombi ao Sul da Bahia, sabe do que estou falando.

Foto: Daniel, Yso e Helmo em Itamambuca - Ubatuba 1974
Pier de Ipanema - anos 70 - Rio de Janeiro

No final dos 70 e no decorrer da década de 80 as pranchas vão ficando cada vez menores, surgem as biquilhas, a explosão do surf hot dog e das competições.
Com a evolução dos equipamentos, das manobras e com as grandes empresas investindo pesado no esporte dos reis, o surf passou a ser mais do que um estilo de vida e acabou por se transformar em um bem de consumo para o mercado de massas.
Com as mudanças cada vez mais rápidas vieram também, o consumismo exagerado, as drogas pesadas, a especulação imobiliária nos melhores picos e a falta de vergonha na cara por parte de muitos que se diziam surfistas, fez com que o surf tomasse um rumo bem diferente daquele preconizado pelos pioneiros. 
O outside de qualquer praia, que tivesse ondas surfáveis, acabara por se tornar uma arena onde a disputa acirrada por reconhecimento e localismo agressivo imperavam.

Mark Richards e suas biquilhas mágicas 1979 
Rico - Rio de Janeiro

 Após alguns anos de surf frenético e de muita balada, alguns surfistas mais "cools" começaram a voltar as origens. 
Uma tendência meio timida no começo com alguns surfistas começando a usar pranchas com shapes antigos, estilo meio largado, criando uma maneira de pelo menos tentar voltar no tempo. 
Hoje a explosão das modalidades Longboard e Sup e da tendência de se procurar points de surf, cada mais longe em lugares de difícil acesso, mostra bem esse resgate.
Se no Brasil muita gente já se sente incomodada como as coisas estão, imagine na California (EUA), onde residem mais de 2 milhões de surfistas praticantes muitos na faixa etária de 60 a 70 anos anos de idade.
Robert Fiegel um longboarder californiano das antigas, nos relata abaixo as mudanças sentidas por ele nas últimas décadas. 
"Meus anos dourados duraram até 1970, quando voltei para Malibu depois de dois anos vivendo em Maui, Hawai. 
Nessa época a revolução das pranchinhas já tinha varrido a tradicional cultura do sul da Califórnia - uma cultura focada em diversão, desafio pessoal, prazer mútuo e respeito pelo meio ambiente costeiro. 
Em apenas o que pareceram ser curtos anos, ela foi substituída por agressividade e por uma nova cultura mercenária que se focava na performance, competição, gratificação pessoal e cobiça. Mas acho que o mesmo poderia ser dito a respeito do resto da cultura do sul da Califórnia.

Eu me lembro de passar pelo pico Hollywood-by-the-Sea quando voltei de Maui, em 1970. Era um lugar onde eu tinha surfado muitas vezes quando ainda não estava na rota do crowd e era pouco conhecido. Agora tinha uma torre salva-vidas e um estacionamento completo, além de surfistas locais mal-humorados que provavelmente ainda estavam no jardim de infância quando comecei a surfar ali. Por sorte, eu encontrei um velho colega que era um conhecido e admirado surfista. Ele fez questão de me apresentar há uns poucos surfistas locais. Depois eu entendi que meu carro provavelmente teria sido destruído se não fosse por isso.

 Gerry Lopes em Pipeline - 1975
Reno Abellira - North Shore - Hawaii


Claro que havia um pouco dessa mentalidade localista no começo dos anos 60, especialmente em Topanga Beach, onde qualquer coisa acima da maré média-alta era propriedade privada, e os invasores eram ameaçados por uma justiça bem dura. Eu me lembro ainda de cruzar com um grupinho de locais em lugares como Windansea e Sunset Cliffs logo no começo, mas esse nível de hostilidade é bem maior do que havia experimentado antes - mesmo em North Shore.

Até aquela época surfar era curtir um momento com alguns amigos e sair da água tendo acabado de sentir a mais pura vida. Disputar cada onda e ficar se vangloriando por aí como um nazista aprendiz definitivamente não era minha idéia de definição de surfar. Eu fiquei aliviado quando um velho amigo (e antigo editor do Surfguide), Bill Cleary, sugeriu que colocássemos nossas pranchas no carro por um longo e preguiçoso percurso até a Costa Rica. Exceto por termos encontrado uns poucos surfistas detestáveis do Texas, foi uma ótima viagem. Quando chegamos em Malibu, carreguei meu VW e voltei para Costa Rica. Acabei vivendo lá pelo próximo ano ou coisa assim.

A Costa Rica era imaculada no começo dos anos 70 e, pelo que sei, alguns picos especiais não mudaram tudo isso desde então. Depois voltei para Malibu e vi quão crowd e poluída a Baía de Santa Mônica tinha se tornado na minha ausência, comecei então a pensar em me mudar de novo. Bill Cleary tinha pensamentos semelhantes, então sentamos com um bando de mapas para planejar um safari "Downunder". A idéia era visitar alguns velhos amigos de Topanga Beach (Doug e Reva Meredith e seus filhos) na Nova Zelandia e então atravessar a "trincheira" e ir a OZ para um surf sério. Destino final, Austrália ocidental.

Malibu Templo do Surf na Califórnia - 1986

Uma vez em Nova Zelândia, no entanto, eu me senti como quando cheguei em Maui em 1968. Como se eu tivesse finalmente chegado em casa. Então saquei o dinheiro da minha passagem PanAm para a perna australiana e, exceto por um curto período em Maui, eu tenho vivido aqui em Aotearoa desde então. Como o surfista Kiwi, Michael Fitzharris, disse quando eu o entrevistei para um artigo sobre a ressureição do longboard na Nova Zelândia em Pacific Longboarder, "não é tanto que a diversão de surfar se foi com a revolução das pranchinhas, é que era muito mais difícil se divertir daquele jeito". Também era mais difícil entrar em uma onda, era mais difícil balancear prioridades de mudanças e era mais difícil competir com surfistas hostis, cada vez mais novos, que pareciam pensar que eles inventaram o surf e que eram donos de todas as ondas.

Tahiti
No Brasil apesar de tudo, muita gente também esta procurando resgatar e viver a verdadeira raiz do surf.
Estão falando que Surf é religião. Eu acredito nisso!!! Se "Deus" se expressa através da natureza, do amor e da gratidão então o Surf é tudo de bom.
Surfar nos faz sentir alegria, felicidade e uma satisfação incomparável ao deslizar sobre as ondas, criando um clima de entrosamento mágico com a energia universal. 

Saquarema - Rio de Janeiro

Quem nunca fez um ondinha show e voltou ao outside, com um sorriso até a orelha?. 
Quem nunca agradeceu aos céus pelo fim de tarde de gala?
Essa sensação não tem preço, não há stress que resista!. 
Mais cedo ou mais tarde vôce também irá botar o pé no freio e vai rir sozinho ao deslizar nas ondas em companhia de seus filhos ou de seus melhores amigos sentindo o verdaderio felling do surf.
Alberto Burguete - Surf Repórter
Sector Nine/Freestyle/Prorider/Triple-Eigth
albertoburguete@hotmail.com

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